Aug 17, 2009

O mito nos Reality Shows

Observação: As postagens deste projeto foram retiradas do blog do autor, exatamente como tinham sido lá colocadas. Entre em Na Ponta dos Lápis e acompanhe mais.

Observação 2:
este é um trecho de um artigo meu, é uma parte que achei bem atual e também interessante.

Na modernidade os indivíduos liam livros de antropologia para conhecer a cultura de determinado local, aprender os seus costumes e ouvir as suas histórias. Este era um interesse de fato pelo real, pela realidade daquele povo. A curiosidade por conhecer as particularidades da cultura do outro era o que impulsionava o indivíduo moderno; a vontade de conhecer o mundo, de desbravá-lo: a busca pela verdade, única e imutável.

Hoje, entretanto, quando um nordestino, por exemplo, entra na casa de um show como o Big Brother, ninguém está interessado em observar através dele a cultura do nordeste. As pessoas querem saber o que ele fará ali dentro, que tipo de personagem irá representar, se será bom ou mal, se ficará ou não com alguém. Ou seja, todo o significado real que a cultura nordestina tem é jogado fora, porém o signo do nordestino continua presente. Ele acaba sendo reconstruído, integrado a novos significados; significados que serão absorvidos pelos indivíduos que acompanham o programa. Este é o mito do qual fala Roland Barthes.

A grande questão é que em uma sociedade em que os indivíduos se vêem perdidos, desprovidos de qualquer projeto coletivo maior a seguir (como foi o Estado e a política), este mito se torna ainda mais perigoso. Como já explicitado, os Reality Shows, assim como os produtos ficcionais em geral, tornam-se um abrigo no mundo pós-moderno, um lugar no qual as certezas podem existir com toda a sua potência. É por isso que as pessoas assistem a esses programas, para poderem se sentir, ao menos por algum tempo, em um mundo em que não há o espaço para dúvida; um lugar em que aquilo que é certo e errado tem definições claras.

O problema é que, uma vez tomando este espaço de lugar das certezas, programas como os Reality Shows se transformam em grandes armas ideológicas. Se as regras comportamentais presentes em tais programas são copiadas e importadas por cada indivíduo, a própria sociedade se modifica ou se petrifica conforme estas regras. Basta uma olhada mais meticulosa para grande parte dos Reality Shows para se perceber que, de uma maneira geral, eles apenas reproduzem a ideologia dominante. Os homens e mulheres sempre devem exibir determinados padrões de beleza, os participantes favoritos em geral possuem uma forte ligação com a família e etc...

Os Reality Shows aparecem, portanto, como grandes disseminadores de mitos, o que logicamente os torna também grandes armas ideológicas na luta por hegemonia. Como todo o mito, são também alienantes, pois retiram dos signos toda a sua história e todo o seu significado para integrarem a eles um significado novo, mais adaptado às vontades das classes dominantes.

2 comments:

  1. O problema é que a comunicação se rompeu há muito tempo, a verdadeira "comunicação" onde entendia-se como 'comunicar', passou a ser vulgarizada, em consequência da ganância que o capitalismo cria foi corrompida e perdeu seus 'valores', os mais "afetados" com a falta de "valores" são os meios de comunicação de massa, que hoje explicitamente demonstram o domínio que tem sobre a população, e não se importam em não fazer isso pois a massa já está "dominada", os poucos que conseguem discernir como as coisas são produzidas/criadas/'estudadas', não podem muito fazer pois perto do "poder" da Televisão, é muito difícil tentar parar essa "máquina de moldar mentes".
    Acredito que o poder aliado às "regras políticas" tornam os "Representates do nosso povo" em pessoas estúpidamente afetadas, pois governam 'capitalmente', ao invés de o fazer socialmente pela e para à sociedade e ao que parece eles não 'percebem' isto.
    ...
    Unindo a força política à comunicação, obviamente a massa se torna a 'energia' que move o sistema, e esse se alimenta dele próprio, cria, aliena e recria.
    No fim ainda vemos que os meios de comunicação é que formam a maior "potência" do mundo, pois podem controlar tudo, basta o ser humano saber que precisa apertar o botão.
    (ON)
    A Tv liga...e eu vou dormir!

    Evandro D.



    Obs.: Parabéns pelo post, é a primeira vez que visito seu blog, e por acaso entrei diretamente nesta matéria, é sempre bom ver que cada vez mais tem alguem que discute o que a maioria não "liga".

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  2. Obrigado por entrar e comentar. E bom saber que pensa sobre este tipo de coisa também. Este texto foi parte de um artigo que escrevi, que eu possivelmente defenderei no ano que vem.

    Este blog aqui é mais parado, é mais para colocar informações sobre o livro e postagens a respeito do tema. Estou para colocar aqui o post "Ficção e Propaganda" que já coloquei no meu outro blog. Lá eu falo mais de literatura, mas volta e meia coloca postagens relacionadas a esta aqui. Lá costumo atualizar todo dia (embora mais voltado para a literatura). Se quiser conferir é só entra - http://www.napontadoslapis.com.br

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